Opinadela: Opiniões, há muitas!
Será ironia uma Opinadela deste blogue ter como título: “Opiniões, há muitas!”? Ou talvez, chegando ao fim deste texto, a melhor classificação seja hipocrisia. Ou não. Mas a verdade é essa: Opiniões, há muitas!
Como seres racionais e em relação com o mundo e com os outros, todos temos as nossas opiniões. E a sabedoria popular avisa-nos: As opiniões são como os “traseiros”, cada um tem o seu. (Gostaram da tentativa de não escrever “cú”?). Ou então aquela máxima que nos diz que: “Devemos respeitar as opiniões dos outros”. Não se trata de aceitar ou abraçar a opinião dos outros, mas sim apenas de respeitar a sua opinião.
Discutir opiniões não é nada de novo. Ou achavam que a expressão “opinião de café” surgiu do nada? Há uns anos, os cafés eram o sítio onde expressávamos as nossas opiniões com amigos, ou até mesmo desconhecidos. E todos nós erámos “opinadores de café”, mesmo não estando num café. Dávamos a nossa opinião, discutíamo-la e, às vezes (muitas mais que poucas), geravam-se zangas e escaramuças. Já todos sabemos que não somos perfeitos.
Entretanto, a “opinião de café” deu origem à “opinião de internet”, inicialmente acessível a alguns, mas hoje, com as redes sociais e a tecnologia, ao alcance de todos (ou quase todos). Olhem só para mim aqui a opinar!
E, contentes, pensávamos que esta ampliação da opinião – que agora perdura no tempo (porque na internet parece que tudo fica para sempre) e que tem um alcance muito além do “café” ou do nosso círculo de conhecidos – seria um sinal de agradável evolução, eis que a humanidade nos surpreende com o que já não nos devia surpreender: a nossa vertente “opinadora” tornou-se mais agressiva, mais impositiva.
Já não nos limitamos a dar opinião, queremos impor a nossa opinião. Já não o fazemos naquela nossa zona de conforto e de proximidade, agora opinamos para todo o mundo ver e ouvir.
Mas o pior é que, agora, ficamos muito facilmente ofendidos pela opinião dos outros. Umas vezes simplesmente por ser diferente da nossa. Outras vezes ficamos ofendidos (com razão) porque são opiniões estúpidas. Eu bem vos avisei no início que este texto podia ser hipócrita, mas esta é a verdade: por muito que tentemos respeitar as opiniões dos outros, algumas opiniões são demasiado provocatórias ou estúpidas. Porque são desinformadas, porque são agressivas, porque são divulgadas em lugares ou momentos inoportunos.
E a necessidade de ter uma opinião e a berrar ao mundo parece crescer a cada dia que passa.
Devemos, então, limitar as opiniões? Não, óbvio que não. Mas podemos construir verdadeiras opiniões informadas e apresentá-las de maneira a serem claras, compreensíveis e o menos ofensivas possível (se calhar escrever inofensivas seria ir longe demais) para os outros.
Ou então não. Continuamos da distribuir opiniões como quem distribui cachaços no recreio da escola. Sem qualquer racionalidade e com o único intuito de provocar o outro. Porque opiniões, há muitas! E a minha vale o que vale.
Para terminar, fiquem lá com umas frases bonitas sobre a Opinião:
«Os homens são movidos e perturbados não pelas coisas, mas pelas opiniões que eles têm delas.» - Epicteto
«O facto de uma opinião ser amplamente compartilhada não é nenhuma evidência de que não seja completamente absurda; de facto, tendo-se em vista a maioria da humanidade, é mais provável que uma opinião difundida seja tola do que sensata.» - Bertrand Russell
«Deve valorizar-se a opinião dos estúpidos: são a maioria.» - Tolstoi
«Mais fácil é unir distâncias, que casar opiniões e entendimentos.» - Pe. António Vieira
«Exteriorizar impressões é mais persuadirmo-nos de que as temos do que termo-las.» - Fernando Pessoa
«Uma criatura de nervos modernos, de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia.» - Fernando Pessoa
«Uma opinião que se tem passa pela pessoa que somos e não pelas razões para a ter. É por isso que todos têm opinião e poucos informação para isso. Mas é por isso também que a mesma informação pode dar opiniões contrárias. Porque tudo se pode trocar, menos a pessoa que se é.» - Vergílio Ferreira
Relembro que este blog já está presente no Facebook: Graforreia Intermitente.